segunda-feira, 18 de maio de 2015

Resumo (Parte I)

Paradão por aqui. O tempo não anda bom, chove com frequência, a grana tá curta, o medo de gastar e ficar sem reservas... enfim, paciência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Acho que cheguei ao meio da construção... a estrutura está pronta, faltando a laminação.

Há coisa de 6 meses comecei a fazer o registro dos fatos mais marcantes desta obra e acho que é o momento de publicá-los. Cabe frisar que as impressões aqui colocadas poderão ser modificadas a partir do segundo estágio desta empreitada. 

Vejamos.

Isso se tornou um vício pra mim, acordo às 04:30 e fico aguardando chegar o sol pra começar a mexer no barco. Durmo pensando em soluções. É bom ou ruim? Enquanto tem o que fazer é bom... quando falta, dá vontade de subir pelas paredes.

Amador...

Amador aqui é aquele que exerce a atividade por prazer e não por profissão... pejorativamente pode-se dizer que o amador é o sujeito que é inexperiente. Seja lá qual for a conotação que se queira dar a esse tipo de empreitada posso afirmar que é preciso requisitos mínimos de habilidades em algumas áreas...

Venho, vez por outra, afirmando que meus conhecimentos no momento inicial eram muito precários, não quer dizer que antes não tivesse utilizado uma furadeira, uma lixa, uma grosa, etc... assim, meu conselho é que antes de começar a botar a mão na massa deve-se treinar com as ferramentas, ler o roteiro de construção, entender uma prancha com o desenho da peça. Não comece zerado!

Tudo que tenho publicado representa minha experiência pessoal, aquilo que estou fazendo, necessariamente não é a melhor prática nem o estrito correto.

O Mi...

O Mi(35 anos) (cujo nome é Isomi Antônio da Silva) meu jardineiro - aqui sempre citado como meu fiel escudeiro - é uma figura muito simples, trabalha comigo há algum tempo e nunca almoçou, tomou café ou jantou aqui em casa, não por falta de convite. Chega às 08:00, 12:00 vai buscar a filha na escola (na garupa da bicicleta), às 14:00 retorna e sai às 18:00. É quem houve minhas broncas, tudo de errado que ocorre eu sempre coloco a culpa nele que ri e nunca diz que estou errado. Mas nem tudo são flores - me faz muita raiva.

O Mi daqui, como muitos Mis que existem por aí, tem uma capacidade de raciocínio bastante limitada, não é preguiçoso, é honesto, mas não dá pra exigir "o algo mais". Não adianta insistir, não conseguirei. Tomem o seguinte exemplo: Ele só chama espátula de "espauta"... eu ensino, digo, explico pra que serve, porque um tamanho é melhor do que o outro pra fazer certas tarefas, passo o dia todo repetindo espátula, espátula, espátula, espátula, espátula... no final do dia o máximo que ele consegue dizer é "espautula" e no dia seguinte só sai "espauta", depois de muito riso... de segunda a sábado, todos os dias é a mesma ladainha. Sei que ele não vai aprender nunca, mas não custa tentar - talvez no dia do meu enterro ele se lembre da espátula.

Faço esse registro porque, apesar dos pesares, fazer um trabalho desses sem um fiel escudeiro por perto é MMMUUUIIIITTTTOOOO difícil. 

O Planejamento...

Certo é que nem todos que constroem um barco residem apenas no eixo Sul/Sudeste do Brasil, muita gente aqui no Nordeste/Norte também constrói e para estes as dificuldades são imensas... talvez esse blog ajude muito mais quem anda por essas bandas do que pelas bandas de lá.

Certo também é que boa parte (quase totalidade) da produção de acervo técnico vem do Sudeste/Sul.

Enfim, o planejamento é algo muito importante... ficar sem material ou ter que comprar algo mais caro por falta de planejamento é frustante e desestimulador. Houve momentos que tive que desviar minha atenção da construção a tal ponto que pensei que não retornaria e o que me fez voltar foi saber que todo o investimento feito até aqui não vale absolutamente NADA, se não for completado. Quando vejo pessoas vendendo construções inacabadas (de veleiros) sei que ali o prejuízo financeiro é enorme - não adianta achar que tá sendo roubado porque você sabe que tá vendendo algo que gerou sacrifícios - sacrifício não tem valor comercial algum - e quem compra está ciente de que está comprando NADA PELA METADE.

O Projeto...

A coisas têm ocorrido sem grandes dificuldades... uma dúvida aqui, outra ali e o Luis Gouveia tem respondido dentro de prazos satisfatórios (48 horas em média), quando o tempo de resposta é grande ou não há respostas, acredito que que seja pela dificuldade de comunicação por parte dele - que neste momento ele está vivendo embarcado na Austrália, penso eu.

As maiores dificuldades encontradas foram:

a) Chanfro nos vaus para colagem dos costados;
b) Chanfro/definição na parte de encontro do casco/costado/roda de proa... a coisa tem que ser definida meio que empiricamente.

A versão que adquiri (26/04/2014) continha erros de projeto e/ou projetos faltando algum tipo de detalhamento. Eté esta etapa o erro mas grosseiro foi o da fixação do estai de proa (comentei no post Capa da Roda de Proa). Nada que comprometesse... como o próprio Cabinho sitou: "Oi Jovito. Eu trabalho tentando melhorar tudo que fazemos o tempo todo. Esse foi um aperfeiçoamento que fizemos depois do projeto ficar pronto. Seu fuzil está superdimensionado, e é para ficar lá a vida toda. Essa foi a ideia original.  Em caso de uma colisão com outro barco, ou outro tipo de acidente que afete o fuzil, aí será mais difícil a substituição. ". Cito esse trecho só para deixar claro que é preciso que estejamos conferindo tudo o que fazemos - SEMPRE.

O Picadeiro...

O meu picadeiro ficou fixo e não me arrependo, os motivos já expliquei no post apropriado, a única ressalva é com relação aos caibros de sustentação das anteparas - acho que fiz finos - 3 X 3. Não tive nenhum problema até aqui, mas sinto que o danado balança quando subo no casco. Nos momentos iniciais da construção não dava qualquer impressão de que ficaria inseguro mas cada peça que é agregada o coração bate mais descompassado.

Meus cálculos: O conjunto hoje deve estar pesando uns 1.500kg, são 20 caibros, cada um deve estar sustentando uns 75kg... tá no limite.

O meu picadeiro foi construído sobre tendas, essa solução foi muito prática, talvez melhor do que se estivesse dentro de 4 paredes... motivo? É muito mais fácil manter o ambiente limpo e a poeira/pó se dissipa com muito mais do que se ambiente fosse fechado... só por isso.

O ambiente onde trabalho está sempre muito limpo, nisso o Mi capricha, se não fosse assim a dona da pensão (Kaká, minha esposa) já tinha me mandado pastar... literalmente.

Ferramentas...

Meu ferramental está super dimensionado para esta empreitada e o motivo principal é que sou viciado em ferramentas. 

Sem esse ferramental as coisas não seriam tranquilas mas preciso registrar que algumas são indispensáveis:

a) Serra tico-tico manual sem fio;
b) Parafusadeira manual sem fio;
c) Lixadeira profissional;
d) Furadeira manual (hobby);
e) Serra manual;
f) Régua de alumínio de 2 m;
g) Régua de plástico maior que 50 cm;
h) Régua de alumínio, com bolhas de nível, de 1 m ou pouco maior.

Comprei os vaus e escoas já cortadas (4X4 e 2X2) o que foi um grande erro - perdi mais de 50%. O certo é comprar as tábuas e cortar no momento da utilização e pra isso é necessário uma serra de bancada.

Possuo muitas ferramentas pneumáticas e essas duas também são indispensável:

a) Lixadeira orbital;
b) Bico de ar.

Algumas são muito importantes mas até aqui usei pouco, poderia ter alugado...

a) Plaina elétrica (chanfros);
b) Tupia manual (caixas das quilhas);

Tem também aquelas coisas que não pode-se pensar em faltar: lápis, espátulas (espauta, segundo o Mi), régua, trena, formão, martelo, parafusos de rosca soberba (40 X 4, 50 X 4, 25 X 4 e 50 X 5), prumo de centro, pregos, sabão, esponjas de aço, esponjas comum, lixas (50, 60 e 180 são fundamentais, pode comprar de quilo) etc etc etc. A lista é grande.

Resina...

Nunca havia trabalhado com resinas e isso me deixou com receio de errar, mas o certo é que quando a gente não tem conhecimento em alguma coisa começamos a super dimensionar nas dosagens.

Pedi muita ajuda ao Anderson da Guanabara Epóxi, que sempre foi atencioso. Toda resina que utilizei nessa construção foi adquirida através dele (RL 5000 e RL 5005). Cheguei até a comprar em mais dois fornecedores pequenas quantidades para testes e a qualidade das RLs foram, sem dúvida, muito superiores.

Durante o processo de dosagem da resina e do endurecedor é preciso ter muita atenção... joguei alguma resina fora por conta de dúvidas.

A sujeira é enorme... mela muito... tenho um estoque de camisas e bermudas que não vão nem mais para o guarda roupas.

Fazer a massa, misturar com aglutinantes, é coisa pra profissa... evito fazê-las ao máximo. Já pedi ajuda a muita gente mas o resultado que obtenho nunca é igual ao que me informam. O melhor que consegui foi com o talco industrial, na proporção de 100 ml de resina para 3 1/2 colheres de sopa (cheias) de talco... ficou grossa mas a consistência nunca foi igual a margarina, como muitos dizem que fica.

Se fosse continuar construindo barcos, depois desse, iria estudar a coisa mais seriamente... não me conformo em não saber o "porque".

Equipamentos de Segurança...

Não dá pra trabalhar sem os óculos e uma máscara. Luva quase não usei, não encontrava no tamanho ideal o que prejudicava o trabalho. 

O Epóxi é tóxico e o meu contato é apenas nos respingos, nunca meti a mão direto da resina, mas sempre lavo-as com muita água e sabão... o certo porém é que a noite sinto que as mãos ficam um pouco dormentes, talvez seja impressão... sei lá, só sei que sinto dormência. 

Fixação...

Comprei muitos grampos tipo "C" e grampos rápidos. Os tamanhos mais adequados são os de 4 a 6 polegadas, mas comprei muitos de 3 polegadas e 2 de 10 polegadas (utilizados na roda de proa).

Para fixação também confeccionei umas 10 longarinas de madeira dura (massaranduba e jatobá) com 1,0 m de comprimento por 6 cm de largura. Confeccionei uma 10 longarinas de liptus 5 cm X 5 cm por 3 m de comprimento para fixação dos costados e casco.

Porém, dentre tudo, a utilização dos parafusos com arruelas de ferro se mostrou extremamente eficiente... é certo que ao final tive que fazer um trabalho de tratamento com resina nos furos deixados por essa técnica - nada muito complicado, apenas a quantidade é que foi grande, perdi uns quatro dias trabalhando nisso, mas valeu o sacrifício.

Colagem...

Quando feita em bancada ou na horizontal é muito tranquilo, na vertical o desperdício é enorme. As escoas e os fechamentos dos costados têm momentos em que a paciência vai pro espaço... até o cabelo fica grudado e só sai aos tufos.

Laminação...

Estou muito inclinado em contratar um pessoal "experiente" - em epóxi não vou encontrar ninguém por aqui, o pessoal está acostumado com resina poliester - eu e Mi não daremos conta. Vou fazer uma cotação pra poder decidir.

As Ferragens Especiais...

Deixei pra me preocupar com as ferragens muito tarde e, por conta disso, fiquei algum tempo sem ter o que fazer.

O início da construção certamente não é o momento mais adequado, uma vez que o desembolso financeiro é relativamente grande (madeira, maquinário, estrutura, etc) mas decorridos os seis primeiros meses o sufoco inicial já passou e aí sim talvez seja a hora de começar a trabalhar esse ponto.







4 comentários:

  1. Grande Jovito.
    Estive em Maceió, mas não consegui chegar até aí.
    Fica pra outra.
    Também fiquei fora da net por um bom tempo, servidor, provedor, notebook, tudo pifou junto.
    Agora restabeleceu-se tudo.
    Quando é que vira o Mig?
    Um Triplo Abraço.
    Joaquim

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    1. Grande Joaquim,

      A obra está parada... preciso investir muita grana de uma só vez e a coisa não anda muito boa não... é melhor ter um pouco de paciência e prudência do que ficar pagando juros de cheque especial.

      Acho que só retomarei os trabalhos no próximo mês.

      Fraterno abraço.
      Jovito Melo

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    2. Oi Jovito, obrigado por tantas informações úteis tanto no blog quanto trocadas por e-mail.
      Mas me permita discordar de vc... Prefiro a definição de amador como sendo aquele que ama o que faz.

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    3. Ricardo,

      Concordo em gênero, número e grau com você... apenas transcrevi o que a literatura publica.

      Forte abraço.

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